Enquanto a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar o Marco Temporal é comemorada como uma vitória para os indígenas, ela também deixa um rastro de angústia e indignação para milhares de famílias catarinenses que agora enfrentam o risco de perder suas terras. O drama se acentua especialmente quando se trata de idosos, que, após décadas de trabalho e investimento emocional na terra, se veem desamparados e se sentem traídos pelas instituições que deveriam protegê-los.
Um casal de agricultores idosos em Santa Catarina, cuja família possui a terra desde 1920, personifica o dilema humano por trás dos debates jurídicos e políticos. Eles abrigaram uma família indígena por determinação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e agora, com a nova decisão do STF, temem perder sua propriedade.
O casal não consegue esconder a revolta e o medo que assolam suas vidas. “Hoje eles querem ficar com a nossa terra. Acham que a gente vai perder? A gente lutou tanto… Trabalhamos a vida inteira,” dizem os idosos. O que deveria ser um ato de solidariedade transformou-se em um pesadelo sem fim: “E boa fé, claro. Não esperava uma desgraça dessa”, reitera o casal.
O drama desses idosos é parte de um cenário maior que abrange cinco famílias e 16 pessoas que residem na mesma área. “É uma pena ter gente da FUNAI que acha que a gente está errado,” desabafam. Este caso realça as consequências muitas vezes desastrosas de decisões judiciais que, embora bem-intencionadas, não levam em conta a complexidade e a diversidade das realidades sociais envolvidas.
“É muito sofrimento. Não é só nós, tem muita gente sofrendo essa injustiça”, afirma o casal, ressaltando a urgência de uma discussão mais inclusiva e sensível à realidade dessas famílias. Enquanto o debate legal prossegue, a vida dessas pessoas entra em um hiato de incerteza, onde a propriedade e o trabalho de uma vida inteira estão à mercê de um veredito jurídico.
A decisão do STF sobre o marco temporal revela não apenas um embate entre indígenas e não indígenas, mas também entre diferentes narrativas e realidades. Enquanto algumas vozes são celebradas, outras são silenciadas. O caso dos idosos em Santa Catarina é um lembrete pungente de que, por trás das manchetes e decisões judiciais, há rostos humanos, histórias de vida e, infelizmente, dramas que não podem ser ignorados.
